Quem hoje chega em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, e resolve passear pela zona sul da cidade, ao passar pelo bairro Tristeza, chegando em Ipanema pela avenida Coronel Marcos, vai notar uma pequena diferença de temperatura e sentir um frescor de ar puro entrando pelos pulmões.
Se olhar à esquerda verá uma elevação de mata fechada atrás das residências da avenida : É o Morro do Osso.
- Como é possível que em meio à toda a expansão imobiliária que acontece no resto da cidade haja esta ilha de verde cercada por seis bairros populosos na cidade de Porto Alegre?
UMA HISTÓRIA PARA SER CONTADA
A preservação deste morro tem uma história que ultrapassa mais de vinte anos.
Em 1986 houve a criação da ADEMO (Associação de Defesa do Morro do Osso) criada por moradores do entorno, associações de bairro e ecologistas já preocupados com a ameaça de urbanização desta importante área. Foi criado um Estatuto mas não sendo registrada em pouco tempo a ADEMO estava desativada. Isto veio a gerar um alerta, no ano seguinte com um manifesto de diversas entidades ambientalistas e associações de bairro, sobre os projetos de ocupação imobiliária da área.
Um laudo técnico emitido por dois geólogos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, em 1988, desaconselhava a ocupação do local finalizando nos seguintes termos: ..."considerando-se que os valores naturais da área são imensos, ainda mais que se encontram embutidos na malha urbana, somos de opinião que qualquer trabalho que envolva a modificação da paisagem natural não deva ser permitido, pois certamente ocasionará danos de ordem ambiental irreversíveis"... este mesmo laudo da Secretaria do Meio Ambiente, revela que o local tem potencial de "Reserva Ecológica e "Ambiente Natural'
Ao mesmo tempo, o Centro Comunitário de Desenvolvimento, que congregava diversos bairros da zona sul de Porto Alegre lançou um Parecer sobre o Morro do Osso baseado em jurisdição Federal, Estadual e do Município e no laudo da Secretaria Municipal, desaconselhando o parcelamento do solo daquela região e posicionando-se a favor da utilização das áreas de preservação para um parque natural com finalidades educacionais, científicas e de lazer.
O Jornal Diário do Sul, de 19 de setembro de 1888, alertava com uma manchete dizendo:"Morro de 500 milhões de anos pode virar loteamento de luxo" ...salientando no texto que os duzentos e setenta hectares eram disputados por construtores e ecologistas.
Durante a votação da Lei Orgânica da Cidade de Porto Alegre, em 1989 foi criado um projeto de lei de autoria do vereador Giovani Gregol em que se incluiria a criação do Parque Municipal do Morro do Osso. O projeto foi rejeitado. A comunidade não desistiu e começou a fazer pressão para que a área fosse declarada "Área de Preservação Permanente"
Nesta ocasião, através de muitas reuniões da comunidade, ficou decidido criar, não uma associação, mas uma Comissão que representasse todas as entidades já estabelecidas, tais como as associações de bairro e as entidades de cunho ecológico que já faziam parte da defesa do Morro.
Desta forma foi criada a Comissão Permanente de Defesa do Morro do Osso, a CPDMO. Esta seria coordenada por um representante que manteria as entidades ao par dos diversos acontecimentos, com poder de convocação destas entidades quando houvesse necessidade e com representatividade para se dirigir ao poder público.
Foi decidido dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo realizado por Joyce Loss na frente do movimento e desta forma ela continuou coordenando a Comissão.
Esta Comissão esteve atuante e congregou por quase duas décadas o movimento pela defesa e criação de um parque ecológico no Morro do Osso. A atuação da Comissão Permanente de Defesa do Morro do Osso tomava as mais variadas formas: panfletagem nas sinaleiras, palestras nos colégios, pressão junto aos órgãos públicos, reuniões periódicas nas associações de bairro, reivindicações no Orçamento Participativo. Uma das formas de pressão era se fazer presente na posse dos diversos prefeitos de Porto Alegre que ocuparam o cargo neste período: nessas ocasiões cada um na sua posse recebia um dossiê do Movimento de Defesa do Morro. Como cada dossiê era encaminhado à Secretaria do Meio Ambiente, havia diversos dossiês arquivados...
Como se tratava de um tema que começava a ter evidência nas manchetes dos jornais, o Meio Ambiente, aos poucos houve identificação da administração pública municipal com o movimento em defesa não só do Morro do Osso, como dos outros morros que compõem a paisagem de Porto Alegre. A SMAM, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, através de todos os secretários que assumiram durante este período, praticamente acolheram a idéia de preservação junto com a comunidade e ao mesmo tempo em que buscavam uma forma de conciliar os interesses dos proprietários com a legislação ambiental vigente.
À Comissão cabia juntar laudos técnicos que embasassem cada vez mais seus argumentos: Do engenheiro agrônomo e orquidófilo Jorge Englert obteve-se um precioso laudo sobre as orquídeas do Morro do Osso. Do professor de Geologia, o naturalista Eloy Lopes Loss, um depoimento argumentando as justificativas "Porque Parque- Reserva Ecológica Morro do Osso". Os jovens do movimento criaram um jornalzinho que unificava todas as notícias referentes e era amplamente distribuido entre a população da zona sul.
O renomado artista plástico Vasco Prado criou um logotipo que se tornou em seguida o símbolo do movimento em defesa do Morro do Osso.
Em 1990 houve um "Grande Abraço ao Morro do Osso", em que se conseguiu reunir mais de três mil pessoas, principalmente colegiais e escoteiros. As crianças fizeram peças de teatro ao ar livre, evocando as fadas e os protetores da floresta. Daí surgiu uma história em quadrinhos, desenhada por um grupo em que falava da tristeza dos anõesinhos protetores da mata, das fadas preocupadas com os condomínios avançando na floresta.
Publicado em outubro de 1990
Dentro do caderno havia uma histórinha com várias páginas em que as crianças além de ler a mensagem poderiam colorir os personagens.
Quando em setembro de 1993 veio a notícia de que a Vila Cai-Cai, um loteamento irregular da orla do rio Guaiba, iria se transferir para o sopé do Morro do Osso os ambientalistas se mobilizaram e cobraram explicações da Prefeitura.
"Loteamento ameaça Morro do Osso," Cabeçalho do Jornal Correio do Povo, de 10 de janeiro de 1994 e ainda: "Projeto do Demhab para reassentar a Vila Cai-Cai, pode prejudicar futuro do Parque do Morro do Osso". O Projeto do Demhab consistia em reservar da área de 54 ha que era proprietário 30ha para o futuro parque e o restante para construções de condomínios para a classe média e parte para um loteamento popular. O então secretário do Meio Ambiente Giovani Gregol brigou publicamente pela área, e o projeto, mesmo aprovado teve uma emenda que determinava a criação de uma faixa de proteção, precedida de um plano de manejo ambiental. Gregol, antes de se retirar da SMAM, entregou ao então prefeito Tarso Genro, um projeto de educação ambiental para os moradores da vila Cai-Cai, de modo a conscientizá-los da defesa do Morro do Osso.
No Jornal Zero Hora de 31 de janeiro de 1994, na página 34, era manchete : "Cai-Cai começa a se mudar em julho", mas logo abaixo, na mesma folha, uma notícia alviçareira: Parque do Morro do Osso será criado! e a notícia informava que um grupo coordenado pela Secretaria de Planejamento, SMAM, Demhab e entidades ecológicas iria começar a planejar o Projeto de implantação do Parque do Morro do Osso. Com uma área prevista de 110ha, seria o segundo maior da cidade. Teriam que ser feitas negociações com quatro proprietários dentro desta área.
No dia Internacional do Meio Ambiente, 5 de junho de 1994, a Comissão Permanente de Defesa do Morro do Osso, convocou a comunidade e ambientalistas para, junto com a Prefeitura realizar o "Grande Abraço ao Morro do Osso" , ocasião em que foi entregue à comunidade o Projeto do Parque Municipal do Morro do Osso inicialmente com 30ha., sendo previsto seu aumento para 110ha com as futuras negociações. O planejamento inicial do Parque previa que 30%da área seria proibida á visitação pública, 30% área restrita com visitação acompanhada e o restante aberto à população. A lei que o criaria em definitivo seria aprovada em 27 de dezembro de 1994.
O novo parque ganha nome: após consulta popular, O Secretário do Meio Ambiente Gerson Almeida anunciou o nome aprovado pela Camara de Vereadores: Parque Natural Do Morro Do Osso, em 12 de maio de 1998.
Em muitas das fases do movimento de Defesa do Morro do Osso, diversas entidades fizeram parte da Comissão Permanente de Defesa do Morro do Osso, CPDMO:
Centro Comunitário de Desenvolvimento dos bairros Tristeza, Pedra Redonda e Vila Conceição (CCD)
Associação Comunitária Jardim Isabel, Ipanema (ASCOMJIP)
Associação dos Moradores do Balneário Ipanema (AMBI)
Associação Amigos da Vila Assunção
Associação Comunitária Daví Maurício (ASCOMDAMA)
Associação dos Moradores do Jardim Verde Ipanema
Associação dos Empresários da Zona Sul
Amigos de Ipanama e Guarujá
Associação dos Moradores do Bairro Camaquã
Associação dos Proprietários do Morro São Caetano (APROMOSC)
Associação dos Moradores de Belém Novo
Federação das Mulheres Gaúchas (FMG)
Clube de Mães Nossa Senhora das Graças
Clube de Mães do Jardim Camaquã
Clube de Mães do Cristal
Clube de Mães de Ipanema
Grupo Escoteiro Tupi Guarani
Grupo Escoteiro Nimuendaju
Grupo Escoteiro Caa-eté
Grupo Escoteiro Pedra Redonda
Aldeia Infantil SOS
Grêmio Estudantil da Escola Odila Gay da Fonseca
Colégio João Paulo I
Colégio Marista Irmão José Otão
Escola Municipal de 1° Grau Neusa Brisola
Escola Estadual de 1° Grau Monte Líbano
Escola Estadual de 1° e 2 ° Graus Padre Cônego de Nadal
Escola Mãe de Deus
Escola Estadual Miguel tostes
Escola Estadual de 1° Grau Três de Outubro
E as Entidades Ecológicas:
AGAPAN - AMIGOS DA TERRA (DSG) - DIRETÓRIO ACADÊMICO DE ESTUDOS BIOLÓGICOS (UFRGS)GRUPO ECOLÓGICO CIO DA TERRA - FUNDAÇÃO GAIA - ASSOCIAÇÃO CANOENSE DE PROTEÇÃO AO AMBIENTE NATURAL - ASSOCIAÇÃO DE PROREÇÃO DAS ÁREAS AMBIENTAIS - PANGEA - COALIZÃO INTERNACIONAL PELA VIDA SILVESTRE - MJDH -
Com a criação do Parque Natural do Morro do Osso, A Comissão Permanente de Defesa do Morro do Osso (CPDMO) continuou as suas atividades tomando assento também no Conselho do Parque. Esta atuação, junto com outros representantes da comunidade consistia em participar das reuniões periodicamente, dando aconselhamento nas decisões da própria administração do Parque , indo às reuniões do Orçamento Participativo da Prefeitura para reivindicar benfeitorias e ajudando na organização dos diversos eventos e atividades de educação ambiental programados durante o ano.
Quem desejar se aprofundar no assunto, visite o site da SMAM da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Neste site é possível conhecer o Plano de Manejo do Morro do Osso.
Parque Natural Morro do Osso
Endereço: Rua Irmã Jacobina Veronese, s/nº
Telefone: 3263-3769
Área: 127 hectares
Inaugurado em: 1994
Visitas orientadas podem ser agendadas por instituições de ensino e pesquisa
NOTA EM SOLIDARIEDADE À VEREADORA DETE SILVA
Há 6 meses
Um comentário:
Lindo! Adorei!
O Movimento de vocês também é exemplar!
Pena que o poder público não corresponde!
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