Engenho Uchoa: conheça a luta de mais de 40 anos pela preservação de mata atlântica no Recife
Sindicatos, movimentos populares
e partidos políticos defendem território cobiçado pela especulação
imobiliária
Lucila Bezerra
26 de Janeiro de 2023 às 09:53
Ouça o áudio:
O Engenho
Uchoa é considerado um refúgio da vida silvestre da mata atlântica - Ascom/Semas-PE
As pessoas tomavam banho e pescavam no rio
Tejipió. Hoje o rio Tejipió é um esgoto
Quem mora no Barro, um dos onze bairros ao redor da mata do Engenho
Uchôa, assim como a aposentada Luci Machado, sabe que o clima na
região é diferente do resto do Recife. Isso por causa da proximidade com a
reserva de mata atlântica no meio da cidade.
"Sabíamos que morar aqui é um privilégio de viver aqui
pertinho da mata, a gente sabia que o clima é diferenciado. Não era um clima
igual a todo lugar. Eu moro aqui no Barro e o clima é completamente diferente.
Aqui é uma descidazinha onde eu moro e fica ladeado mesmo com o rio Tejipió e a
Mata do Uchôa", afirma a aposentada.
A mata do Engenho Uchôa é um refúgio da vida silvestre que atravessa
onze bairros da capital pernambucana e faz parte do Sistema Estadual de
Unidades de Conservação (SEUC), dos quais são protegidos quase 172
hectares.
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Segundo informações da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), a
unidade de preservação é um importante fragmento da mata atlântica no estado,
por fazer parte da bacia hidrográfica do rio Tejipió e apresentar ecossistemas
de restinga e manguezal.
Desde a década de 1980, há mais de 40 anos, moradores da região
junto a sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos atuam em
defesa da mata, que tem sua maior parte de propriedade da iniciativa
privada.
"Temos no Ministério Público muitas denúncias de incêndio
criminoso, de retirada de areia, de retirada de barro, de tentativa de invasão,
mesmo, de grupos grandes, enormes, eram empreendedores que queriam mesmo ter
lucro nisso aí", relata Luci.
O movimento em defesa da mata do Engenho Uchôa assumiu o papel de
lutar pela região. A atuação coletiva já brigou contra grandes
imobiliárias, que ameaçaram acabar com a mata para a construção de
prédios.
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verdade
Essa defesa do território faz parte da relação dos moradores com a
mata. Muitos deles brincavam e pescavam no local. Entre
eles está o aposentado Augusto Semente.
"Eu tirava folha de dendê para fazer papagaio, que o pessoal hoje chama
'pipa'. Então, na minha infância eu ia lá tirar folha de dendê. Muita gente, lá
dentro da Mata do Engenho Uchôa ia a riachos, que tinha camarão, ia pescar
camarão lá. O rio Tejipió, como Luci falou, que a Mata do Engenho Uchôa está na
Bacia do rio Tejipió, pessoas tomavam banho, pescavam no rio Tejipió. Hoje o
rio Tejipió é um esgoto", compara.
O grupo tem lutado para que a mata se torne um parque natural, garantindo
assim a sua preservação, o acesso de mais pessoas ao espaço, além de
regulação e o equilíbrio climático.
"Essa mata do Engenho Uchôa, sendo criado esse Parque Natural que a
gente quer, vai contribuir e muito com a questão climática. Ela tem
uma dimensão muito grande: econômica, ecológica, ambiental. Essas enchentes
mesmo que a gente teve agora o Recife, a Mata do Engenho Uchôa amenizou muito
do que essa catástrofe poderia ter sido bem maior", afirma Augusto.
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Segundo informações da Secretaria de Meio Ambiente do Governo de
Pernambuco, apenas 3% da área de mata atlântica no estado é
protegida, menos da metade da meta estabelecida pela Organização das
Nações Unidas (ONU), que é de 10%. Neste sentido, o órgão tem sido
provocado a assegurar aquisição e a regularização fundiária de regiões de mata
atlântica.
O maior sonho dos moradores é ver a mata protegida e o parque implementado.
Edição: Douglas Matos e Daniel Lamir
Fonte: Brasil de Fato Pernambuco
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