Futebol e ativismo: A Copa do despertar feminista de Marta
Quando marcou o gol de pênalti contra a Austrália, no segundo jogo da seleção pela Copa feminina, Marta chamou a atenção do mundo para uma causa que abraçou como sua. Na comemoração, apontou para as chuteiras personalizadas com um símbolo pela igualdade de gênero no esporte. Aos 33 anos, seis vezes eleita a melhor jogadora do planeta, a craque brasileira se engaja como nunca para deixar um legado para as mulheres no futebol que extrapole seus recordes e conquistas individuais.
Por Breiller Pires
Mudança de postura de Marta coincide com sua nomeação como embaixadora da ONU Mulheres, no ano passado
“Não gosto de falar, gosto de mostrar”, disse a camisa 10 do Brasil após o gesto diante das australianas. Já o desabafo logo em seguida à eliminação para a França, nas oitavas de final, soou como uma convocação inspiradora para que as jovens atletas se dediquem a cuidar da semente que ela ajudou a plantar: “Não vai ter uma Marta para sempre, uma Cristiane, uma Formiga. E o futebol feminino depende de vocês para sobreviver”. “Chore no começo para sorrir no fim”, concluiu.
Marta jamais havia se apresentado como feminista nem aderido de forma tão contundente a pautas do movimento. Mas não era difícil ecoá-lo sendo dona de uma trajetória que espelha as desigualdades enfrentadas pela mulher, inclusive no esporte. Foi criada apenas pela mãe, depois que o pai abandonou a casa da família quando ela tinha um ano, e impedida de jogar futebol em sua cidade, no sertão de Alagoas.
Seu primeiro salário na Europa era equivalente a R$ 3 mil e até hoje, mesmo consagrada, ainda está muito distante de receber as milionárias cifras embolsadas pelos grandes craques do masculino. Chegou ao Mundial da França, o mais visto da história, sem nenhum contrato fixo de patrocínio, depois de recusar propostas que lhe ofereciam menos da metade do que já chegou a ganhar em outras temporadas.
A mudança de postura, que antes se concentrava mais no desempenho esportivo em detrimento dos discursos, coincide com a nomeação da atacante como embaixadora da ONU Mulheres, no ano passado. “Marta é um modelo excepcional para mulheres e meninas em todo o mundo. Sua própria experiência de vida conta uma história poderosa do que pode ser alcançado com determinação, talento e coragem”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da organização das Nações Unidas, que tem utilizado a imagem da atleta para promover campanhas contra o sexismo e a discriminação de gênero.
Em março, ao participar de um evento na sede da ONU, em Nova York, Marta emocionou a plateia ao contar sobre os desafios que precisou superar para se tornar uma jogadora profissional. “O preconceito e a falta de oportunidades já me doeram ao longo do meu caminho. Doeu quando meninos não me deixaram jogar. Doeu quando treinadores me tiravam dos campeonatos porque eu era apenas uma menina. Mas minha certeza de onde eu iria chegar nunca me deixou desistir”, discursou antes de ser aplaudida de pé. A ONU Mulheres trabalha com a meta de alcançar a igualdade de gênero em escala global até 2030 e bate na tecla da equidade salarial reivindicada pelas mulheres no futebol.
Uma das inspirações de Marta, que atua no Orlando Pride dos Estados Unidos, onde está desde 2017, é o movimento de jogadoras da seleção norte-americana, que entrou com ação coletiva contra a federação local por discriminação de gênero institucionalizada. Apesar de gerarem maior receita de bilheteria que a seleção masculina, elas alegam disparidade de remuneração e premiações em relação aos homens, que recebem cerca de cinco vezes mais para defender o país.
Mesmo sabendo da realidade diferente amargada pelo futebol feminino no Brasil, em que a maioria das jogadoras nem sequer tem carteira assinada, Marta aproveita a onda de protestos para cobrar patrocinadores por equiparação. Neste campo dos patrocínios, ela começa a se movimentar e querer desfrutar, inclusive financeiramente, do status de influenciadora.
No último jogo do Brasil na fase de grupos, ela entrou em campo com um indefectível batom de cor “sangria”, uma ação, ela disse quando perguntada, para a marca Avon – neste domingo, escolheu um vermelho fechado. A repercussão em várias páginas e publicações, que reverberaram até os posts de sua namorada tentando interagir em português, reforça o apelo midiático da craque como uma personalidade capaz de estender sua bandeira em outros campos. Já foi destaque no jornal The New York Times e na revista de moda Vogue Brasil, que estampa a jogadora na capa de sua edição de julho com a chamada “A vez de Marta”.
A publicação ressalta que a importância da jogadora não está condicionada ao resultado no Mundial, como explica a editora-chefe Paula Merlo. “A taça é um mero detalhe para o quão longe ela chegou e para tudo o que representa para esta e para as próximas gerações.”
Desde que se tornou a grande referência da modalidade, Marta vem sendo cobrada por assumir posicionamentos mais incisivos pela valorização das mulheres no futebol. Em 2017, seu posicionamento após a demissão de Emily Lima, primeira mulher a comandar a seleção feminina, gerou insatisfação em algumas colegas. Jogadoras assinaram um manifesto em defesa da treinadora, mas ela decidiu não fazer coro ao protesto.
Mesmo sendo favorável à permanência de Emily, entendeu que o desconforto com dirigentes pela carta poderia prejudicar ainda mais a equipe. Sempre elogiou a treinadora em entrevistas, porém, na última semana, trocou farpas com a ex-comandante após ela dizer que, caso ainda estivesse no cargo, não levaria Marta para a Copa com limitações físicas.
Embaixadora da causa pelo empoderamento das mulheres e também do futebol feminino no Brasil, Marta mostrou, pelo menos em seus pronunciamentos e atitudes nesta Copa do Mundo, que se convenceu da importância de marcar posição além do gramado. Depois de bater o recorde no Mundial, contra a Itália, se convertendo na maior artilheira de todos os tempos do torneio, com 17 gols, ela dedicou o feito a todas as atletas.
“Hoje temos uma mulher como a maior goleadora das Copas. Esse recorde não representa só a jogadora Marta, mas todas as mulheres num esporte ainda visto por muitos como masculino”, disse, olhando para várias câmeras, reafirmando ainda o compromisso de defender os direitos das que se inspiram em seu exemplo fora do esporte. “Eu divido com vocês que lutam e batalham em todos os setores e ainda têm de provar que são capazes de desempenhar qualquer tipo de atividade. É nosso!”.
Marta jamais havia se apresentado como feminista nem aderido de forma tão contundente a pautas do movimento. Mas não era difícil ecoá-lo sendo dona de uma trajetória que espelha as desigualdades enfrentadas pela mulher, inclusive no esporte. Foi criada apenas pela mãe, depois que o pai abandonou a casa da família quando ela tinha um ano, e impedida de jogar futebol em sua cidade, no sertão de Alagoas.
Seu primeiro salário na Europa era equivalente a R$ 3 mil e até hoje, mesmo consagrada, ainda está muito distante de receber as milionárias cifras embolsadas pelos grandes craques do masculino. Chegou ao Mundial da França, o mais visto da história, sem nenhum contrato fixo de patrocínio, depois de recusar propostas que lhe ofereciam menos da metade do que já chegou a ganhar em outras temporadas.
A mudança de postura, que antes se concentrava mais no desempenho esportivo em detrimento dos discursos, coincide com a nomeação da atacante como embaixadora da ONU Mulheres, no ano passado. “Marta é um modelo excepcional para mulheres e meninas em todo o mundo. Sua própria experiência de vida conta uma história poderosa do que pode ser alcançado com determinação, talento e coragem”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da organização das Nações Unidas, que tem utilizado a imagem da atleta para promover campanhas contra o sexismo e a discriminação de gênero.
Em março, ao participar de um evento na sede da ONU, em Nova York, Marta emocionou a plateia ao contar sobre os desafios que precisou superar para se tornar uma jogadora profissional. “O preconceito e a falta de oportunidades já me doeram ao longo do meu caminho. Doeu quando meninos não me deixaram jogar. Doeu quando treinadores me tiravam dos campeonatos porque eu era apenas uma menina. Mas minha certeza de onde eu iria chegar nunca me deixou desistir”, discursou antes de ser aplaudida de pé. A ONU Mulheres trabalha com a meta de alcançar a igualdade de gênero em escala global até 2030 e bate na tecla da equidade salarial reivindicada pelas mulheres no futebol.
Uma das inspirações de Marta, que atua no Orlando Pride dos Estados Unidos, onde está desde 2017, é o movimento de jogadoras da seleção norte-americana, que entrou com ação coletiva contra a federação local por discriminação de gênero institucionalizada. Apesar de gerarem maior receita de bilheteria que a seleção masculina, elas alegam disparidade de remuneração e premiações em relação aos homens, que recebem cerca de cinco vezes mais para defender o país.
Mesmo sabendo da realidade diferente amargada pelo futebol feminino no Brasil, em que a maioria das jogadoras nem sequer tem carteira assinada, Marta aproveita a onda de protestos para cobrar patrocinadores por equiparação. Neste campo dos patrocínios, ela começa a se movimentar e querer desfrutar, inclusive financeiramente, do status de influenciadora.
No último jogo do Brasil na fase de grupos, ela entrou em campo com um indefectível batom de cor “sangria”, uma ação, ela disse quando perguntada, para a marca Avon – neste domingo, escolheu um vermelho fechado. A repercussão em várias páginas e publicações, que reverberaram até os posts de sua namorada tentando interagir em português, reforça o apelo midiático da craque como uma personalidade capaz de estender sua bandeira em outros campos. Já foi destaque no jornal The New York Times e na revista de moda Vogue Brasil, que estampa a jogadora na capa de sua edição de julho com a chamada “A vez de Marta”.
A publicação ressalta que a importância da jogadora não está condicionada ao resultado no Mundial, como explica a editora-chefe Paula Merlo. “A taça é um mero detalhe para o quão longe ela chegou e para tudo o que representa para esta e para as próximas gerações.”
Desde que se tornou a grande referência da modalidade, Marta vem sendo cobrada por assumir posicionamentos mais incisivos pela valorização das mulheres no futebol. Em 2017, seu posicionamento após a demissão de Emily Lima, primeira mulher a comandar a seleção feminina, gerou insatisfação em algumas colegas. Jogadoras assinaram um manifesto em defesa da treinadora, mas ela decidiu não fazer coro ao protesto.
Mesmo sendo favorável à permanência de Emily, entendeu que o desconforto com dirigentes pela carta poderia prejudicar ainda mais a equipe. Sempre elogiou a treinadora em entrevistas, porém, na última semana, trocou farpas com a ex-comandante após ela dizer que, caso ainda estivesse no cargo, não levaria Marta para a Copa com limitações físicas.
Embaixadora da causa pelo empoderamento das mulheres e também do futebol feminino no Brasil, Marta mostrou, pelo menos em seus pronunciamentos e atitudes nesta Copa do Mundo, que se convenceu da importância de marcar posição além do gramado. Depois de bater o recorde no Mundial, contra a Itália, se convertendo na maior artilheira de todos os tempos do torneio, com 17 gols, ela dedicou o feito a todas as atletas.
“Hoje temos uma mulher como a maior goleadora das Copas. Esse recorde não representa só a jogadora Marta, mas todas as mulheres num esporte ainda visto por muitos como masculino”, disse, olhando para várias câmeras, reafirmando ainda o compromisso de defender os direitos das que se inspiram em seu exemplo fora do esporte. “Eu divido com vocês que lutam e batalham em todos os setores e ainda têm de provar que são capazes de desempenhar qualquer tipo de atividade. É nosso!”.
Fonte: Portal Vermelho A esquerda Bem Informada
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