Abelardo da Hora faz 90 anos de arte puramente nordestina e brasileira
Escultor, desenhista, ceramista, gravador e poeta. Abelardo da Hora é um pernambucano apaixonado pelas artes. Ele completa 90 anos nesta quinta-feira (31) e não pensa em parar de trabalhar no ateliê que funciona em sua casa, na Rua do Sossego, no bairro da Boa Vista, no centro do Recife.
Uma das peças produzidas mais recentemente é a escultura ‘O Artilheiro’, que tem cinco metros de altura e é feita em bronze polido. A obra vai ser inaugurada no dia do aniversário do artista, em frente à Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, onde Abelardo nasceu. “No carnaval deste ano, eles fizeram uma homenagem para mim lá [em São Lourenço], cantando músicas que falavam de mim. Fiquei emocionado, não tinha como não ficar”, conta o artista.
O Artilheiro
Apesar do carinho com a terra natal, Abelardo admite que o coração é recifense. Pelas ruas da cidade, inúmeras obras suas estão expostas, muitas delas doadas. Na Praça da República, é possível ver o “Monumento aos Heróis de 1817”, enquanto a Rua da Aurora conta com o “Memorial do Frevo”.
Cultura do povo
Os temas populares sempre atraíram o artista. O frevo e o maracatu, a cultura dos terreiros, assim como a fome e as dificuldades do povo. “Eu morei ali na Iputinga. O Engenho do Meio estava terminando de moer [a safra de cana]. Vim do meio de camponeses e trabalhadores de engenho, eu vivi nesse ambiente, é a cultura do povo, o trabalho do povo”, explica Abelardo, que fez ensino técnico em artes decorativas.
Bolsista na Escola de Belas Artes, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico sem saber. “Eu não sabia que estava concorrendo. Rosa Soares, Ana Paz, Ana Galvão e Cremilda me inscreveram. Estava mais preocupado com a minha produção artística. Quando começou a apuração de votos, eu me surpreendi”, recorda. Como presidente, fez questão de levar os estudantes para buscar temas além das paredes da escola.
Painel Abolição da Escravatura - Edifício Joaquim Nabuco, Centro do Recife
Foi nessa época que recebeu o convite do industrial Ricardo Brennand [pai do artista plástico Francisco] para trabalhar na fábrica de cerâmica, onde ficou até dezembro de 1945. De lá, seguiu para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em uma fábrica de manequins e começou a se preparar para participar do Salão de Belas Artes. “O presidente era Eurico Gaspar Dutra, o cão em forma de gente. Ele acabou com o salão, que acontecia desde o Império”, recorda, ainda com revolta.
O Salão não aconteceu, mas a escultura que Abelardo da Hora fez para a exposição, que retratava uma família, acabou estampando o Jornal do Brasil. Ao retornar para o Recife, fez sua primeira exposição de esculturas, em 1948. Foi nesse momento que criou o Ateliê Coletivo, onde deu aulas para figuras como José Cláudio, Gilvan Samico e Guita Charifker. “Durante dez anos, dei aulas de graça”, conta.
O Homem das Cabaças - Parque 13 de Maio, Recife. Foto: Eduardo Cunha
Foi nessa mesma exposição que conheceu Margarida Lucena, com quem se casou e teve sete filhos. Ela era concluinte do curso de direito e o encheu de perguntas. Ele a convidou, então, para conhecer seu ateliê. Meses depois, se casaram. “Vivemos juntos por 62 anos. Ela me deu cinco moças e dois rapazes. Minha família é maravilhosa, coisa de Deus mesmo”, diz orgulhoso Abelardo, que por vezes utilizou os amigos e parentes como inspiração para suas obras.
Retirantes - Parque Dona Lindu, Recife. Foto: Eduardo Cunha
O Abelardo da Hora artista era também político - integrou o Partido Comunista a partir do fim da década de 1940. “Fui secretário de agitação e propaganda do partido. Fui preso mais de 70 vezes. Umas 30 foram somente na época da campanha a favor do monopólio estatal do petróleo. Eu terminava o discurso e já tinha a polícia me esperando”, recorda.
Abelardo, da Aurora, da Hora
Fonte: G1 Pernambuco
Publicado: Site Comitê Municipal PCdoB Recife
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