quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Ataques a Amazônia: há limite para tanta estupidez?

Eron Bezerra

Ataques a Amazônia: há limite para tanta estupidez?

As reiteradas manifestações de agressão do governo Bolsonaro à política ambiental como um todo e contra a Amazônia em particular parece não ter fim, o que nos leva a questionar se não há um limite para tanta estupidez, seja de natureza política, ecológica e mesmo econômica.

No momento em que o próprio governo anuncia que entre 2018-2019 nada menos do que 9.762 km² (976.200 hectares) da Amazônia foram destruídos, se convertendo no maior desmatamento desde 2008, o governo Bolsonaro anuncia a disposição de exportar madeira nativa da Amazônia.

Esse desmatamento, assim como a disposição de exportar madeira bruta, como já demonstramos em artigos anteriores, decorre da concepção predatória, do obscurantismo teórico e científico que caracteriza o atual governo, bem como da vassalagem que pratica em relação ao império americano, seja na esfera econômica ou ambiental.

Não é necessário muito esforço para concluir que isso é uma estupidez política, ecológica e econômica.

Politicamente nos cria uma série de embaraços nos fóruns internacionais que podem redundar em retaliação e prejuízo econômico exatamente ao setor do agronegócio que, em tese, o governo finge proteger. Essa política irracional, que faz com que os predadores se sintam à vontade para vociferar contra qualquer racionalidade, fez com que mesmo estados como o Amazonas, cujas taxas de desmatamento sempre foram historicamente baixas, agora experimentem um enorme incremento no desmatamento, superando inclusive Rondônia cuja base econômica está assentada no agronegócio.

Sob a lógica ecológica, ambiental, esse desmatamento e consequentemente a queima, tem dimensões de tragédia. Como se sabe, dois fatores são essenciais ao desenvolvimento dos vegetais: a radiação fotossintética e o dióxido de carbono (CO2), o qual passa a fazer parte da composição das árvores e é liberado pela decomposição ou queima das mesmas. Mesmo trabalhando com valores conservadores de que cada hectare queimado libere apenas 100 toneladas de dióxido de carbono (CO2), a emissão total seria de algo como 97,6 milhões de toneladas de CO2 no período em questão.

E a estupidez se completa na área econômica. A exportação de madeira in natura nos remete ao velho status colonial, quando se exportava matéria prima sem qualquer valor agregado, abdicando em favor de outras nações do elementar princípio da verticalização do processo produtivo e da agregação de valor aos nossos produtos. Essa mentalidade colonial, de submissão às demais economias, tem como consequência imediata a redução das taxas de crescimento de nosso produto interno bruto.

Um metro cúbico de madeira bruta é comercializado por algo como 200, 300 reais. Com uma simples verticalização produtiva que o converta, digamos, em carteira escolar, esse mesmo metro de madeira pode render 2.500 reais. É preciso dizer mais para demonstrar a estupidez?

E a justificativa do presidente de que “é melhor você exportar de forma legalizada do que de forma clandestina e continuar saindo do Brasil” deixa patente que a nação está em perigo. Basta!
* Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.

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