domingo, 18 de agosto de 2019

12º Festival De Cinema De Triunfo - Carta de Premiação do Júri

Entre 05 e 10 de agosto, no Sertão do Pajeú, aconteceu o 12º Festival De Cinema De Triunfo, que contou com o júri da ABD/Apeci, formado por Anna AndradeCarlos Eduardo Ferraz e Marcia Rezende.
Confiram a carta de premiação do júri:
Pensamos no cinema enquanto uma ferramenta político-cultural de comunicação, de comunidade. A partir do cinema conseguimos expressar desejos e denúncias, afetos e inquietações, que só fazem sentido através dos encontros. Podemos ver o resultado desses encontros em toda a programação do Festival, que trouxe para a tela de Triunfo, no Sertão do Pajeú, filmes de povos originários, filmes de diretoras e diretores negros, a representatividade feminina na direção - que contou com uma sessão inteiramente delas -, filmes feitos por coletivos e a partir de atividades de formação, com destaque para filmes de Triunfo, que dão total sentido à existência deste Festival.
A ABD/APECI – Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas / Associação Pernambucana de Cineastas tem como papel dentro do Festival apontar o filme que se destaca a partir da representatividade social e política e reconhecer a criatividade da obra. Porém, diante das amplas perspectivas apresentadas ao longo desses cinco dias, não podemos nós hierarquizar aqui o trabalho dessas equipes. Algumas que nos trazem obras realizadas a partir de incentivos públicos e/ou privados, outras que surgem a partir da necessidade e de sentimentos urgentes que precisam sair do papel, algumas equipes que conseguem viver do fazer cinema, e outras equipes que sobrevivem da utilização do cinema enquanto fio condutor emergente de suas narrativas.
Diante disto, o júri aqui composto por Anna Andrade, Carlos Eduardo Ferraz e Marcia Rezende (MAPE), gostaria de destacar filmes como Enraizada, de Tiago Delácio, Mucunã, de Carol CorreiaDeus Te Dê Boa Sorte, de Jacqueline Farias e Opará – Moradia dos nossos ancestrais, de Graci Guarani, que trazem histórias de mulheres e grupos que lutam por nossa existência - no sentido humano -, filmes que nos fazem refletir sobre a preservação de nossas matas e cidades, lutam contra a colonização e pela perpetuação dos saberes ancestrais.
Resistência, que vemos em filmes como Negrum3, de Diego PaulinoMesmo com tanta Agonia / Filme, de Alice Andrade Drummond e Rebento Filmes, de Vinícius Eliziário onde conseguimos enxergar perspectivas de futuro, a revisão da masculinidade, a força do manifesto preto pelo fim da violência para se fazer entender e perceber de uma vez por todas que os pretos desse país “carregam a história de gerações, de vozes dos que vieram antes de nós e existem hoje em nome daqueles que virão depois”.
Luta, pela normalização do que é normal, pelo respeito aos nossos corpos, pelo enfrentamento de dificuldades em realização de obras que expressam anseios, como Quanto Craude no Meu Sovaco, de Duda Menezes e Fefa Lins, e O grande amor de um lobo, de Kennel Rógis e Adrianderson Barbosa.
Sonhos, possibilidade de criação através da linguagem da animação, que nos trazem o desejo da chuva no Sertão, como Quando a Chuva Vem, de Jefferson Batista de Andrade e que nos fazem pensar de forma tão sensível na memória e no afeto, como em Guaxuma, de Nara Normande. Memória e afeto que também vemos em Codinome Breno, de Manoel Batista que mostra a retroalimentação da luta, e Quitéria, de Tiago A. Neves que nos faz refletir sobre o anti esquecimento. Estamos aqui. Vivos.
Nestes dias de tantas trocas, reforçamos o desejo pela pluralidade do cinema e a importância de se enxergar que somos seres capazes de realizar nossos sonhos, de contar nossas histórias em qualquer espaço-tempo. Reforçamos também a importância das atividades de formação e dos encontros, que quando realizados possibilitam ao público a oportunidade de se ver nas telas, de se reconhecer, e se conectar com essas histórias, como podemos ver com maestria com os filmes realizados e exibidos aqui em Triunfo, Desirrê, filme produzido a partir da Oficina Documentando, #Turismo_Selvagem, Direção Coletiva através da oficina do Cine Sesi Cultural, e Solitude, do Coletivo Cinema do Interior.
Por fim, gostaríamos de destacar que o cinema nos possibilita ultrapassar qualquer barreira, nas nossas cidades, nos nossos lugares de origem, nos lugares que quisermos e da forma que quisermos, mas é essencial que tenhamos responsabilidade e nos apropriemos de forma coerente e sensata dessas narrativas. Ademais, desejamos vida longa ao Festival de Cinema de Triunfo e Demarcação JÁ!


Fonte: ABD/APECI – Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas / Associação Pernambucana de Cineastas

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