A inspiração que vem do Parque Augusta
A luta da comunidade pela preservação de uma área verde, de uso público, na região central de São Paulo, pode servir de parâmetro para imbróglios semelhantes em tantas cidades do Brasil
Por Wagner de Alcântara Almeida*
Depois de mais de quarenta anos, parece que, enfim, o batalhado Parque Augusta, na região central da capital paulista, vai se tornar realidade. Um termo de acordo entre a Prefeitura de São Paulo, o Ministério Público Estadual e as construtoras proprietárias do terreno foi assinado no último dia 10 de agosto. A conquista de uma área verde, de uso público, em uma das zonas mais áridas da cidade, deixa um histórico de lutas que pode servir de inspiração para a vida urbana em tantas outras partes do Brasil.
O primeiro legado é o da resistência, inclusive ao poder econômico. A comunidade que se envolveu para garantir que o antigo jardim ficasse livre da cobiça do mercado imobiliário mostrou que, apesar de todas as adversidades, de passos adiantes e retrocessos, a mobilização vale a pena. Graças à intensa articulação de parte da sociedade, o poder público, mesmo com o histórico de ser conivente com a sanha das construtoras, dessa vez precisou por freios na ganância do capital privado.
Vereadores e prefeitos de todas as correntes políticas que controlaram e controlam a administração pública municipal nos últimos anos tiveram de tomar providências que, de alguma forma, atendiam à reivindicação da comunidade mobilizada. Se, por um lado, havia o lobby do mercado imobiliário, de outro estava a pressão popular – intensa e atenta. O acordo firmado entre Prefeitura, Ministério Público e construtoras é menos por iniciativa própria desses entes, e mais por força do povo unido.
Imbróglios assim são rotina em cidades pelo Brasil. Áreas de valor histórico, cultural, social, ambiental, da noite para o dia deixam de pertencer à coletividade para se tornarem reféns do poder econômico. No lugar de edificações antigas emblemáticas; de áreas verdes que representavam respiro para quarteirões tomados por concretos, da noite por dia aparecem tapumes e escavações, das quais tempos depois emergem edifícios artos, como cantou Adoniran Barbosa em “Saudosa Maloca”.
Não é se opor ao progresso. Ao contrário. É entender que progresso é qualidade de vida. E qualidade de vida se faz com refúgios ambientais, culturais; com espaços de convivência, pública, entre as pessoas que são as cidades.
Outro legado é para os gestores públicos. Aos técnicos da burocracia e aos detentores de cargos de confiança ou eletivos em todo o país, o acordo entre entes estatais e capital privado em São Paulo comprova ser uma falácia a desculpa de que impor contrapartidas à iniciativa privada afugenta investimentos.
É uma ladainha apregoada por quem só quer lucrar sem o mínimo de responsabilidade com o entorno, com a comunidade onde se insere. Ocorre justamente o contrário. Atuação forte do Estado, firme na defesa dos interesses públicos atrai investimentos de verdade. Que geram emprego, renda. Mas que geram condições dignas de vida em sociedade.
*É jornalista e professor. Mestre em estudos de linguagens. Licenciado em geografia. Bacharel em comunicação. Mantém e edita a Rede Macuco
O primeiro legado é o da resistência, inclusive ao poder econômico. A comunidade que se envolveu para garantir que o antigo jardim ficasse livre da cobiça do mercado imobiliário mostrou que, apesar de todas as adversidades, de passos adiantes e retrocessos, a mobilização vale a pena. Graças à intensa articulação de parte da sociedade, o poder público, mesmo com o histórico de ser conivente com a sanha das construtoras, dessa vez precisou por freios na ganância do capital privado.
Vereadores e prefeitos de todas as correntes políticas que controlaram e controlam a administração pública municipal nos últimos anos tiveram de tomar providências que, de alguma forma, atendiam à reivindicação da comunidade mobilizada. Se, por um lado, havia o lobby do mercado imobiliário, de outro estava a pressão popular – intensa e atenta. O acordo firmado entre Prefeitura, Ministério Público e construtoras é menos por iniciativa própria desses entes, e mais por força do povo unido.
Imbróglios assim são rotina em cidades pelo Brasil. Áreas de valor histórico, cultural, social, ambiental, da noite para o dia deixam de pertencer à coletividade para se tornarem reféns do poder econômico. No lugar de edificações antigas emblemáticas; de áreas verdes que representavam respiro para quarteirões tomados por concretos, da noite por dia aparecem tapumes e escavações, das quais tempos depois emergem edifícios artos, como cantou Adoniran Barbosa em “Saudosa Maloca”.
Não é se opor ao progresso. Ao contrário. É entender que progresso é qualidade de vida. E qualidade de vida se faz com refúgios ambientais, culturais; com espaços de convivência, pública, entre as pessoas que são as cidades.
Outro legado é para os gestores públicos. Aos técnicos da burocracia e aos detentores de cargos de confiança ou eletivos em todo o país, o acordo entre entes estatais e capital privado em São Paulo comprova ser uma falácia a desculpa de que impor contrapartidas à iniciativa privada afugenta investimentos.
É uma ladainha apregoada por quem só quer lucrar sem o mínimo de responsabilidade com o entorno, com a comunidade onde se insere. Ocorre justamente o contrário. Atuação forte do Estado, firme na defesa dos interesses públicos atrai investimentos de verdade. Que geram emprego, renda. Mas que geram condições dignas de vida em sociedade.
*É jornalista e professor. Mestre em estudos de linguagens. Licenciado em geografia. Bacharel em comunicação. Mantém e edita a Rede Macuco
Fonte: Portal Vermelho A Esquerda Bem Informada
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