Meio ambiente – a volta da truculência dos EUA
Para usar a linguagem popular, o presidente dos EUA, Donald Trump chutou o pau da barraca ao anunciar o afastamento de seu país do acordo climático, ao qual tinha aderido, sob Barack Obama, na COP 21, em Paris, em 2015.
Por José Carlos Ruy
Pois é, Trump tomou essa decisão criticada pela imensa maioria dos países, e que coloca a China num papel central, a partir de agora, nas negociações climáticas.
A decisão de Trump recoloca a questão climática no mesmo nível em que estava antes de 2015, quando o grande obstáculo a um acordo envolvendo todos os países era justamente a intransigência dos EUA, agora reiterada por Trump. E que se revelou nas contradições vividas pelas 20 COPs (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) realizadas entre a 1ª COP (Rio de Janeiro, 1992) e a 20ª COP (Lima, Peru, 2014).
O braço de ferro que marcou até então aqueles eventos internacionais era o choque entre os interesses dos países ricos e industrializados e a busca pelo desenvolvimento e industrialização dos países emergentes, sobretudo China, Índia e Brasil.
O unilateralismo que levou Trump a romper o acordo do clima repete argumentos usados pelos países em desenvolvimento. É preciso defender, não importa a que custo, os empregos dos trabalhadores estadunidenses, sugere Trump, repetindo argumento semelhante ao dos países pobres.
Mas a comparação não resiste a um olhar abaixo da superfície de suas palavras. Na verdade, além de defender os interesses dos monopólios recordistas em emissão de gases do efeito estufa – sobretudo as multinacionais do petróleo e as empresas exploradoras do carvão nos EUA – Trump volta a agitar o mesmo tacape contra o desenvolvimento industrial em países do chamado Terceiro Mundo.
O embate tradicional nas negociações climáticas vem desde a reunião inaugural do chamado “Clube de Roma” que, em 1968, formulou os fundamentos da ideologia ambientalista ainda em voga. Reuniu gente que era contra o desenvolvimento dos países pobres - acadêmicos e cientistas ligados a executivos de multinacionais como a Fiat, a Olivetti e a Volkswagen; representantes dos governos italiano e japonês; e professores de universidades alemãs e do MIT (Massachusetts Institute of Technology, dos EUA). Foi ali que se consolidou o argumento de que o desenvolvimento industrial das nações ainda atrasadas poderia levar ao esgotamento dos recursos naturais não renováveis do planeta e à deterioração ambiental.
Era um argumento conveniente aos países que dominavam o cenário mundial pois, ao pregar a paralisia do desenvolvimento industrial, congelava de certa maneira as relações internacionais no patamar onde se encontravam – os países ricos continuavam no comando do mundo, e os demais subordinados a eles.
O braço de ferro entre estas duas tendências atravessou as décadas seguintes, e o terrorismo ambientalista ganhou pedigree científico desde a criação, em 1988, pela ONU, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (inglês Intergovernmental Panel on Climate Change), com o objetivo de reunir e resumir artigos de revistas científicas sobre as mudanças climáticas. E atribuí-las a uma ação humana que muitos cientistas pensam que ainda não existe na escala de alterar globalmente o clima no planeta, embora tenha de fato graves efeitos maléficos nos locais onde os seres humanos moram, como são principalmente as cidades.
Embora não haja consenso entre os cientistas sobre as conclusões difundidas pelo IPCC, elas passaram a ser propagadas pela imprensa hegemônica e por políticos envolvidos com a questão, como verdades inabaláveis, e aqueles que divergem (entre eles muitos cientistas, sobretudo climatologistas) passaram a ser desqualificados como “céticos”, e suas obras simplesmente deixaram de ser levadas em conta, embora sejam resultado do trabalho de cientistas sérios, com obras solidamente baseadas na observação de fatos objetivos.
De qualquer maneira, as conclusões terroristas difundidas pelo IPCC passaram a freqüentar a mídia mundial, e as mentes e corações de muita gente. Elas reforçam, em nosso tempo, os argumentos contra o desenvolvimento formulados pelo Clube de Roma.
Foi um debate que se pode chamar de hercúleo. Nele, o protagonismo da diplomacia brasileira foi responsável pela fixação de um argumento de grande repercussão sobre as responsabilidades dos países em relação aos danos ambientais: o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas, segundo o qual cabe aos países desenvolvidos, que foram historicamente os maiores poluidores, e são mais ricos, arcar com maiores custos pelo combate aos danos ambientais.
Tudo indica que a decisão unilateral de Trump recoloca o mundo no mesmo debate ambiental anterior. A adesão dos EUA ao acordo climático, sob Barack Obama, de certa maneira despolitizou o debate e o relegou a páginas por assim dizer secundárias dos periódicos, nas quais já estavam desde pelo menos a eclosão da crise econômica mundial de 2007/2008, que deixou a impressão de que os embaraços à economia dos países ricos surgidas com a crise teriam suplantado o debate até então em curso sobre a chance dos países emergentes consolidarem seu desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida de seus povos.
A decisão de Trump pode recolocar o debate nos mesmos termos anteriores, sob a mesma truculência estadunidense na defesa unilateral de seus interesses, contra todo o mundo.
Fonte: Portal Vermelho A Esquerda Bem Informada
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