quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Fidel: A verdade sobre o que ocorreu em Copenhague

América Latina

20 de Dezembro de 2009 - 15h52


O líder cubano Fidel Castro afirmou neste domingo (20) que a cúpula da ONU sobre mudança climática (COP-15), em Copenhague, terminou com "uma iniciativa antidemocrática e virtualmente clandestina", e acusou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de pronunciar "um discurso enganoso e demagógico".
Em um novo artigo divulgado pela imprensa oficial cubana, o ex-presidente diz que, na capital dinamarquesa, foram humilhados movimentos sociais, instituições científicas e outros convidados.

Fidel aplaude os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, que proclamaram o "fracasso" da cúpula mesmo antes que começasse, assim como ele.

Segundo Fidel, se em Copenhague "foi alcançado algo importante, foi que, através da imprensa de massa, a opinião pública mundial pôde observar o caos político criado e o tratamento humilhante a chefes de Estado e de Governo, ministros e milhares de representantes de movimentos sociais e instituições".

O primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba afirma que, na capital dinamarquesa, houve uma "brutal repressão contra manifestantes pacíficos", de modo que lembrava, segundo ele, "a conduta das tropas dos nazistas que ocuparam a vizinha Dinamarca em abril de 1940".

Acrescenta que a cúpula foi "suspensa pelo Governo dinamarquês - aliado da Otan e associado ao açougue do Afeganistão - para entregar a sala principal da conferência ao presidente Obama, onde ele e um grupo seleto de convidados, 16 no total, teriam o direito exclusivo de falar".

"Obama pronunciou um discurso enganoso e demagógico, cheio de ambiguidades, que não implicava em compromisso vinculativo algum e ignorava o convênio marco de Kioto", afirma o ex-presidente. Leia abaixo a íntegra do artigo:

A verdade sobre o corrido na Cúpula
Por Fidel Castro

Aos jovens interessa mais que a todos o futuro.

Até recentemente, se discutia sobre o tipo de sociedade em que viveríamos. Hoje se analisada se a sociedade humana vai sobreviver.

Não se trata de frases dramáticas. É preciso acostumar-se com os fatos reais. A última coisa que os seres humanos podem perder é a esperança. Com a verdade em mãos, homens e mulheres de todas as idades, especialmente os jovens, travaram na Cúpula uma exemplar batalha, oferecendo ao mundo uma grande lição.

O principal agora é que se saiba o máximo possível, em Cuba e no mundo, sobre o ocorrido em Copenhague. A verdade tem uma força que ultrapassa a inteligência midiatizada e, muitas vezes, desinformada daqueles que detêm em suas mãos o destinos no mundo.

Se na capital dinamarquesa se conquistou algo importante foi que, através da imprensa de massa, a opinião pública mundial pôde observar o caos político criado e o tratamento humilhante a chefes de Estado e de Governo, ministros e milhares de representantes de movimentos sociais e instituições, que, cheios de ilusões e esperanças, viajaram à Cúpula de Copenhague.

A brutal repressão contra manifestantes pacíficos pelas forças de segurança, recordava a conduta das tropas de assalto nazistas, que ocuparam vizinha Dinamarca em abril de 1940. O que ninguém poderia imaginar era que, em 18 de dezembro de 2009, último dia da Cúpula, ela seria suspensa pelo governo dinamarquês - aliado da OTAN e associado ao açougue do Afeganistão - para entregar a sala principal da conferência ao presidente Obama, onde ele e um grupo seleto de convidados, 16 no total, teriam o direito exclusivo de falar.

Obama pronunciou um discurso enganoso e demagógico, cheio de ambiguidades, que não implicava em compromisso vinculativo algum e ignorava o convênio marco de Kioto.

Saiu da sala logo depois de ouvir alguns oradores mais. Entre os convidados a usar da palavra, estavam os países mais industrializados, várias das economias emergentes e alguns dos mais pobres do planeta. Os líderes e representantes de mais de 170 países só tinham o direito de ouvir.

Ao se encerrar o discurso dos 16 escolhidos, Evo Morales, com toda a atoridade de sua origem indígena aymará, recém eleito com 65% dos votos e o apoio de dois terços da Câmara e do Senado, solicitou a palavra. Ao presidente dinamarquês não restou outra solução que não ceder-lhe, ante a demanda das demais delegações.

Quando Evo concluiu suas sábias e profundas frases, o dinamarquês teve que ceder a palavra a Hugo Chávez. Ambos os pronunciamentos passarão à história como exemplos de discursos breves e oportunos.

Tendo cumprido cabalmente suas tarefas, os dois partiram a seus respectivos países. Porém, quando Obama saiu do fórum, não havia cumprido ainda a sua missão no país sede da Cúpula.

Desde a noite do dia 17 e a madrugada do dia 18, o Primeiro Ministro da Dinamarca e altos funcionários dos EUA se reuniam com o presidente da Comissão Europeia e os líderes de 27 países para propor, em nome de Obama, um projeto de acordo, de cuja elaboração não iriam participar nenhum dos outros líderes do resto do mundo.

Foi uma iniciativa antidemocrática e virtualmente clandestina, que ignorava milhares de representantes de movimentos sociais, instituições científicas, religiosas e outros convidados na Cúpula.

Durante toda a noite do dia 18 até as três da manhã do dia 19, quando muitos chefes de Estado já haviam ido embora, os representantes dos países estiveram aguardando a retomada das sessões e a cerimônia de encerramento. Durante todo o dia 18, Obama realizou reuniões e conferências de imprensa. O mesmo fizeram os líderes europeus. Então partiram.

Ocorreu entã algo insólito: às três da manhã do dia 19, o primeiro-ministro da Dinamarca convocou uma reunião para o encerramento da cúpula. Estavam representando seus países ministros, funcionários, embaixadores e pessoal técnico.

Foi, contudo, assombrosa a batalha que travou essa madrugada um grupo de representantes de países do Terceiro Mundo, desafiando a tentativa de Obama e os mais ricos do plantea de apresentar como acordo por consenso da Cúpula um documento imposto pelso Estados Unidos.

A representante da Venezuela, Claudia Salerno, com incrível energia, mostrou a sua mão direita, a partir da qual fluía sangue, pela força com que golpeou a mesa para exercer o seu direito a usar da palavra. Do tom da sua voz e da dignidade de seus argumentos jamais se esquecerá.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, fez uma forte discurso de cerca de mil palavras, do qual selecionei vários parágrafos. Gostaria de incluir nesta reflexão:

"O documento que o senhor várias vezes afirmou que não existia, senhor Presidente, aparece agora. [...] Nós vimos versões que circulam de forma sub-reptícia e que se discutem em pequenas reuniões secretas ... "

"... Eu lamento profundamente a forma como o senhor tem conduzido esta conferência ".

"... Cuba considera totalmente inadequado e inaceitável o textop deste apócrifo projeto. A meta de 2 graus centígrados é inaceitável e teria consequências catastróficas imensuráveis ... "

"O documento que, infelizmente, o senhor apresenta não tem qualquer compromisso com a redução de emissões de gases de efeito estufa. "

“Conheço ass versões anteriores que também, através de procedimentos questionáveis e ilegais, estiveram sendo negociadas em panelinhas fechadas ... "

"O documento que o senhor apresenta agora omite, precisamente, as já magras e insuficientes frases chaves que aquela versão continha ... "

"... Para Cuba, é incompatível com o critério científico universalmente reconhecidos, que considera urgente e inevitável garantir níveis de redução, pelo menos, de 45% das emissões até 2020, e não inferiores a 80% ou 90% de redução em 2050. "

"Qualquer abordagem em relação à continuidade das negociações para aprovar, no futuro, acordos de redução de emissões deve incluir, necessariamente, o conceito da vigência do Protocolo de Quioto [...] Seu projeto, o Sr. Presidente, é a certidão de óbito do Protocolo de Quioto, que a minha delegação não aceita ".

“A delegação cubana deseja enfatizar o primado do princípio de "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", como um conceito central do futuro processo de negociações. Seu papel não diz uma palavra disso ".

"Este projeto de declaração omite compromissos específicos de financiamento e transferência de tecnologia aos países em desenvolvimento como parte do cumprimento das obrigações dos países desenvolvidos no âmbito da Convenção-marco das Nações Unidas sobre Mudança do Clima [...] Os países desenvolvidos, que impõem os seus interesses através de seu documento, Sr. Presidente, fogem de qualquer compromisso concreto. "

"... O que vocês chamam, Sr. Presidente, de um grupo de líderes representativos" é, para mim, uma violação grosseira do princípio da igualdade soberana que consagra a Carta das Nações Unidas ... "

"Sr. Presidente, peço formalmente que esta declaração esteja contida no relatório final sobre o trabalho desta infeliz e embaraçosa 15 Conferência das Partes. "

Eles tinham concedido apenas uma hora para os representantes dos Estados expressarem opiniões, o que conduziu a situações complicadas, embaraçosas e desagradáveis.

Houve então uma longa discussão em que as delegações dos países desenvolvidos exerceram forte pressão para tentar aprovar na Conferência este documento como um resultado de suas deliberações.

Um reduzido número de países insistiu com firmeza nas sérias omissões e ambiguidades do documento impulsionado pelos Estados Unidos, em particular na ausência de compromisso dos países desenvolvidos quanto à redução de emissões de carbono e ao financiamento para adotar medidas de mitigação e adaptação dos países do Sul.

Após uma discussão longa e extremamente tensa, prevaleceu a posição dos países da ALBA e do Sudão, como presidente do Grupo dos 77, de que o documento em questão era inaceitável para ser aprovado pela Conferência.

Dada a evidente falta de consenso, a Conferência se limitou a "tomar nota" da existência deste documento, conforme a posição de um grupo de cerca de 25 países.

Na sequência desta decisão adotada às 10h30 da manhã, Bruno -- após discussão, junto a outros representantes da ALBA , como secretário da ONU e expressar-lhe a disposição de continuar lutando ao lado das Nações Unidas para prevenir as terríveis consequências da mudança climática - partiu na companhia do Vice-presidente cubano, Esteban Lazo, ao nosso país para participar da reunião da Assembléia Nacional, que conclui o seu trabalho. Em Copenhague ficaram alguns membros da delegação e o embaixador para participar dos trâmites finais.

Na tarde de hoje, relataram o seguinte:

"... Tanto aqueles que participaram na elaboração do documento, assim, como os que – a exemplo do presidente dos EUA - se anteciparam para anunciar sua aprovação pela Conferência ... como não poderiam simplesmente rejeitar a decisão de "tomar nota" do suposto ‘Acordo de Copenhague’, tentaram propor um procedimento para que outros países Parte, que não haviam estado neste compromisso , se somassem a ele, declarando sua adesão, o que tentavam dar-lhe um caráter legal ao acordo, que de fato poderia prejudicar os resultados das negociações
deverão continuar. "

"Esta tentativa tardia novamente recebeu forte oposição de Cuba, Venezuela e Bolívia, que advertiram que esse documento que a Convenção não havia endossado não tinha base legal, não existia como um documento das Partes e não poderia se estabelecer regra alguma para sua suposta adoção …"

"É neste estado que terminam as sessões de Copenhague, sem que se tenha adotado o documento que foi preparado secretamente durante os últimos dias, com uma clara condução ideológica do governo norte-americano ... "

Amanhã o foco estará na Assembléia Nacional.

Lazo, Bruno e o resto da delegação chegará hoje à meia-noite. O Ministro de Negócios Estrangeiros de Cuba vai explicar na segunda-feira com os detalhes e precisão necessária, a verdade do que aconteceu na Cúpula

Fidel Castro
10/12/2009
http://www.vermelho.org.br/

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